1 07 2015
Como eu consegui me mudar para a Alemanha?
Uma pergunta muito frequente que me fazem é: como é que eu consegui mudar para a Alemanha? Essa pergunta se tornou ainda mais frequente depois que eu publiquei um artigo mostrando quanto custa morar na Alemanha. Ao invés de ficar sempre respondendo a mesma coisa quinhentas vezes, que tal eu escrever um relato aqui do site e apontar as pessoas para esse link? E é justamente sobre essa história que eu vou escrever hoje, com detalhes. Mas, antes de começar, fique com uma foto da cidade onde eu moro atualmente (bacana, não?):
A minha história
Para contar exatamente como o processo aconteceu, tenho que começar lááá atrás. Desde que eu tinha uns quinze anos de idade, eu sempre tive a vontade de morar fora do Brasil para ver “qual é que era“. Talvez essa vontade nasceu da época que eu tinha um professor de inglês que morou na Inglaterra e sempre contava histórias muito doidas dessa época da vida dele. No começo eu queria fazer um intercâmbio, talvez pra Inglaterra ou Canadá, mas, meus pais não foram muito fãs dessa ideia, e acabou que eu nunca fiz intercâmbio durante a minha adolescência.
Mais tarde, durante a faculdade, eu sempre procurava opções de bolsas de estudo fora do Brasil. Na época, eu sempre ficava de olho no site Universia Brasil, que tinha oportunidades de bolsas de estudo de mestrado e doutorado no mundo inteiro (parece que agora só tem para Estados Unidos, Reino Unido e China). Nunca consegui encontrar alguma oportunidade que tenha dado certo, e acabei terminando a faculdade sem ter feito nenhum intercâmbio e sem ter conseguido alguma bolsa de estudo fora do Brasil.
Quando terminei a faculdade, estava trabalhando em uma empresa pequena, que desenvolve sistemas para a área de Recursos Humanos. Eu não me arrependo em nenhum momento de ter trabalhado nessa empresa, muito pelo contrário, acho que ela foi uma parte extremamente importante no processo. Quando eu trabalhava nessa empresa, por ela ser pequena, eu tinha que fazer praticamente tudo relacionado ao desenvolvimento das aplicações. Além disso, durante esse tempo eu tive a oportunidade de tentar fazer uma transição para a área de negócios (não deu certo dessa vez, mas, aprendi bastante ao fazer essa tentativa).
Enfim, um certo dia, em 2008, estou eu em um cliente esperando uma reunião terminar para que eu pudesse realizar um update no sistema e, ao checar o meu e-mail pessoal, encontro um com o título “Oportunidade Internacional“, vindo do Pedro Castelo, que eu conhecia por ambos sermos líderes da Comunidade .NETRaptors. Tenho o e-mail até hoje, veja só alguns trechos:
A ideia é: Você começa trabalhando conosco … depois disso você se envolverá num projeto internacional que acontece na Letônia e é coordenado pela [filial] do Reino Unido. A ideia é que você fique um tempo no Reino Unido ajudando o pessoal de lá … possivelmente você terá também que visitar o cliente na Letônia, o que pode ser uma experiência muito boa também. Ao término deste projeto a ideia é termos você conosco em São José dos Campos (isso se você não ficar de vez no Reino Unido!)
Sendo bem sincero, na época eu nem sabia onde era a Letônia (que vergonha hein!), mas, como eu nunca tinha saído do Brasil e eu sempre quis ter experiência internacional, acabei aceitando a proposta (que era até financeiramente OK comparando com a situação que eu estava, mas, nada astronômico – o que mais me interessou mesmo foi a “oportunidade internacional“).
Lendo agora o e-mail mais uma vez, parece ser muito propaganda enganosa, mas, acabou que não era. O resultado do processo bateu quase 100% com o que foi dito nesse primeiro e-mail. Durante o projeto, que durou uns três anos, eu viajei pra caramba para a Letônia, pelo menos umas oito vezes. Na primeira vez fiquei na Letônia por sete semanas seguidas. Nas outras vezes ficávamos em torno de duas a três semanas. Além disso, como o projeto era coordenado pela filial do Reino Unido, estávamos em contato direto com o pessoal de lá, o que foi uma experiência extremamente interessante. Teve uma fase do projeto que praticamente “nos mudamos” para a Escócia (ficamos três meses lá) para facilitar a comunicação e por ser mais perto da Letônia para facilitar as viagens.
Porém, o que aconteceu de mais importante (para mim) durante esse projeto foi que surgiu algumas oportunidades de visitarmos a filial da Alemanha. Em uma das oportunidades, o plano era que eu ficasse duas semanas aqui na Alemanha trabalhando junto com o Pedro em um componente que precisaríamos para o projeto da Letônia (a propósito, o Pedro tinha conseguido ser transferido para a filial da Alemanha enquanto eu estava trabalhando nesse projeto da Letônia). No final das contas eu fui pego pela erupção do vulcão na Islândia e eu acabei ficando preso aqui por mais uma semana, o que acabou sendo bom e ruim ao mesmo tempo. Ruim porque fiquei uma semana a mais longe da minha esposa (e também porque, depois de uma semana que eu tinha voltado ao Brasil, tive que ir à Letônia – o plano se o vulcão não tivesse entrado em erupção é que eu iria para a Letônia direto da Alemanha e voltaria para o Brasil em seguida). Mas foi também bom porque, nesse período a mais, consegui estreitar mais as relações com o pessoal do escritório daqui, principalmente o Pedro.
Enfim, depois de pouco mais de um ano dessa visita à Alemanha, o projeto com o cliente da Letônia tinha acabado e eu não estava muito contente com a minha posição trabalhando na filial do Brasil. Por outro lado, eu estava cada vez mais ativo na comunidade, palestrando frequentemente na região e fazendo cada vez mais contatos. Oportunidades de projetos “por fora” começaram a surgir e eu acabei pedindo a conta para me aventurar nesses projetos.
Porém, durante o meu aviso prévio, em uma conversa com o Pedro sobre a minha saída, ele me contou sobre uma posição que estava em aberto na filial daqui. Um projeto de migração bem grande estava começando, uma vaga estava disponível e ele perguntou se eu não tinha interesse em me candidatar para a posição. Depois de pesar os prós e contras juntamente com a minha esposa, acabei me candidatando e o resultado vocês já sabem. Em uma outra oportunidade eu conto mais sobre esse processo e dou dicas sobre o que você deve se atentar caso você passe pela mesma situação.
Finalizando a minha história, o que eu quero deixar bem claro é que nada disso teria ocorrido se eu não tivesse, anos antes, criado um vínculo com a comunidade .NETRaptors e conhecido pessoas que foram cruciais nesse processo. Claro que competência conta muito – não teria adiantado nada existir a vaga em aberto aqui se eu não me encaixasse no perfil necessário e não tivesse mostrado serviço nos anos anteriores –, mas, os contatos são imprescindíveis e facilitam muito a sua vida no mercado de trabalho.
Como você pode conseguir?
Agora que você conheceu a minha história de mudança para a Alemanha, quero apresentar algumas opções para você, que também quer fugir do Brasil e buscar uma vida melhor por aqui. Essas são, na minha opinião, do nível de dificuldade do mais fácil para o mais difícil, as maneiras como você poderia tentar se mudar para cá.
Nacionalidade de algum país da União Europeia
Obviamente, a maneira mais fácil de conseguir se mudar para cá é tendo nacionalidade de algum país da União Europeia. Uma vez tendo um “passaporte europeu“, você pode simplesmente vir para cá mesmo sem ter conseguido um emprego antes da sua vinda.
Chegando aqui, você pode se estabelecer na cidade que quiser e procurar emprego. Claro que você terá que ter juntado uma boa grana para se manter enquanto não acha um emprego (uma vez que o custo de vida aqui não é dos mais baratos) e também provavelmente vai ter dificuldades de encontrar algo na sua área logo de cara, mas, a dificuldade nesse cenário é bem baixa.
Como essa opção não é muito comum (afinal de contas, não é tão fácil conseguir uma nacionalidade de algum país da União Europeia hoje em dia, principalmente devido às longas filas dos processos de naturalização), vamos partir para uma alternativa mais realista.
Vir estudar e acabar ficando
A opção de vir para cá como turista e arrumar um emprego, além de ser ilegal, é praticamente impossível de conseguir fazer dar certo. Quando se é estrangeiro, a entrada para o visto de trabalho deve ser feita no consulado no país de origem, ou seja, não adianta arrumar um emprego aqui enquanto turista, porque o processo de entrada para obtenção de visto de trabalho teria que ser iniciado no consultado (ou embaixada) da Alemanha no Brasil.
Uma opção alternativa é você juntar um dinheiro e vir para cá estudar alguma coisa, preferencialmente alemão. Obtenha um visto de estudos e venha para cá estudar pelo menos um ano. Não sei exatamente as regras para esse caso, mas, sei que no início você não pode trabalhar. Depois de um tempo você pode trabalhar part-time (só que, de qualquer modo, você precisa uma quantidade de dinheiro suficiente para se manter mesmo sem estar trabalhando).
Você consegue renovar o visto de estudante e, depois de dois anos estando aqui, o esquema do visto acaba sendo muito mais tranquilo. Depois desse tempo, como você já vai estar falando um alemão mais razoável (principalmente se você tiver ficado aqui dois anos especialmente estudando alemão), fica mais fácil encontrar um emprego na sua área com uma empresa que aceite fazer o processo do visto de trabalho com você.
Sem dúvida, para quem tem dinheiro guardado, essa é uma opção mais fácil do que arrumar uma empresa que te contrate sendo estrangeiro, morando no Brasil e que você nunca tenha tido contato antes.
Empresa com filial no Brasil e na Alemanha
Essa opção foi a que aconteceu comigo. A empresa que eu trabalho tem filial no Brasil e em outros lugares do mundo, como Alemanha. Trabalhei por mais de três anos na filial do Brasil e, como eu contei na minha história, acabou dando certo de eu ser transferido para cá.
É um processo muito difícil e demorado, mas, se você tem interesse em se mudar do Brasil (para onde quer que seja), é melhor que você trabalhe em uma empresa que tenha filial no país onde você tem interesse de morar. Depois de um bom tempo mostrando serviço, comunique a sua vontade de ter essa experiência internacional. Muitas vezes isso acaba sendo possível (mesmo que por um tempo limitado – o meu primeiro contrato aqui com a filial da Alemanha foi de dois anos, mas, graças a Deus consegui renová-lo e agora tenho um contrato de tempo indeterminado).
Contatos, contatos, contatos – e comunidade!
Independente da maneira que você escolher se aventurar, estabelecer contatos com pessoas que possam te ajudar no processo é um passo muito importante. Anos atrás a comunidade de desenvolvedores era muito ativa (que época boa!). Infelizmente o conceito de comunidade morreu e tudo está mais voltado para o individualismo.
Porém, nem tudo está perdido. Nesse mundo em que as comunidades estão extintas, você deve tentar criar contatos de outras maneiras. Crie um blog, comente em artigos de outros blogs, entre e participe de comunidades do Facebook voltadas a desenvolvimento, responda questões em fóruns de desenvolvimento. Você pode até mandar um e-mail direto para pessoas as quais você tenha interesse em criar um contato (que tal entrar em contato comigo para batermos um papo?). Muitas vezes a pessoa não responderá, mas, o que você tem a perder?
Depois de eu ter publicado o artigo com o custo de vida na Alemanha, algumas pessoas me mandaram e-mails perguntando dicas, outras perguntaram se eu não sabia de alguma oportunidade que se encaixasse com o perfil delas. Eu tenho contato aqui com outras pessoas que estão interessadas em contratar e poderia até fazer alguma indicação. Mas, você acha que eu vou indicar quem? Alguém que está entrando em contato comigo pela primeira vez ou alguém que eu já tenha contato há bastante tempo, que eu conheça o trabalho da pessoa e saiba que ela “mostra serviço“? A resposta é clara, não? Portanto, mais uma vez: crie contatos e compartilhe conhecimento para mostrar que você tem diferencial!
De vez em quando eu pretendo escrever artigos como estes contando um pouco sobre minha experiência aqui na Alemanha. Eu já tenho alguns tópicos em mente para artigos futuros: como foi o esquema para conseguir o visto de trabalho; como foram os seis primeiros meses de adaptação; como os desenvolvedores alemães pensam. Se você gostar desse tipo de artigo, deixe um comentário abaixo. E, se você tiver alguma sugestão de tema relacionado à vida na Alemanha, deixe um comentário também (ou, entre em contato!)
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Até a próxima!
André Lima
Meio ano se passou… E como estão as metas? Transações distribuídas com o TransactionScope
Oi André! Adorei saber sobre a sua experiência. Como disse em um comentário anterior, quero muito viajar por muitos países, e dentro das minhas vontades também quero muito morar em outro país. Sobre as ideias de post que você tem, eu iria adorar ler sobre seu período de adaptação e principalmente como os desenvolvedores Alemães pensam, mas principalmente gostaria que você falasse também sobre as tendências no desenvolvimento de software aí na Alemanha. Eu não sei se comentei, mas também sou desenvolvedora, atualmente trabalho com .NET. Gostaria de saber se poderia te adicionar no Linkedin, pois quero ampliar minha rede de contatos. No mais, parabéns pelo blog. Não encontro conteúdo nem mesmo parecido com o que você disponbiliza aqui. Continue compartilhando, por favor!
Olá Ana, obrigado pelo comentário!
Muito obrigado pelas sugestões de posts.. Sem dúvida quero falar ainda sobre a adaptação e o jeito que os desenvolvedores aqui pensam..
E claro que pode me adicionar no LinkedIn.. Meu perfil está linkado na minha página de contatos.. É só me adicionar lá..
Abraço!
André Lima
Que experiencia! Parabéns por trilhar esse caminho incrível.
Olá Ezequiel! Muito obrigado pelo comentário!
Grande abraço!
André Lima
Parabéns pelo post e pela sua carreira.
Também quero trabalhar fora do Brasil (Inglaterra ou Alemanha).
Sou novo aqui. Gostei muito dos conteúdos abordado.
Olá Marcelo! Muito obrigado pelo comentário!
Ví que você me enviou convite no LinkedIn.. Já te adicionei.. Boa sorte na sua jornada e, se tiver alguma sugestão de temas para próximos artigos, é só falar!
Abraço!
André Lima
Oi André,
Parabéns pelo relato! Sou desenvolvedor de software e tenho cidadania italiana. Teria muito interesse em trabalhar na minha área na Alemanha, nos próximos anos. Alem de estudar o alemão, quais tecnologias nessa área você recomendaria que eu estudasse/me aprofundasse? O que gera demanda ou é tendência na Alemanha na área de desenvolvimento de software? Muito obrigado desde já!
Olá Erico, obrigado pelo comentário!
Nossa, como no Brasil, aqui tem demanda pra tudo.. Eu não conheço o mercado como um todo, mas, na minha área de expertise (desenvolvimento com a plataforma Microsoft), tem demanda para todo tipo de profissional.. Desenvolvimento desktop, web, back-end.. Desde que você seja um bom profissional e bem qualificado, você tem chances.. Aonde realmente o bicho pega pra quem não tem contatos aqui é a questão do alemão.. Então, sugiro que você foque nisso mesmo.. A parte técnica é um mero detalhe (desde que você seja bom no que faz, é claro)..
Abraço!
André Lima
Olá André, parabéns por nos contar e, desta forma ajudar, com sua experiencia de vida na Alemanha.
Tenho uma pergunta e espero q saibas me responder ou pelo menos me dê alguma “luz”… Sou aposentada e tenho uma filha casada com um alemão, q mora em Bennigen, a dois anos. Penso em ir morar tb na Alemanha, comprando ou alugando uma casa pequena. Vc saberia me dizer se isto é possível? Nao quero ir trabalhar, apenas morar.
Aguardo sua mensagem e desde já obrigada!!!
Silvia
Olá Silvia, obrigado pelo comentário!
Não sou especialista nesse assunto de imigração, mas, dando uma procurada rápida aqui eu encontrei este artigo onde uma advogada explica que, infelizmente, não é possível fazer isso que você está querendo:
Ausländische Eltern nach Deutschland holen
Está em alemão, mas, acredito que a sua filha ou genro possam te explicar melhor.. Pelo que a advogada falou nesse link, só é possível trazer os pais estrangeiros em casos especiais, onde, por exemplo, os pais precisem de ajuda para viverem (por ter algum problema de saúde ou deficiência, por exemplo)..
Abraço!
André Lima
André,
Mto obrigada por sua resposta.
Silvia
Adoraria morar na Alemanha falando bem a lingua e escrita e falada de igual para igual no Brasil sou massagista de coluna 45 anos de profissão
Legal, Paulo! Boa sorte aí pra você!
Abraço!
André Lima
Olá André!
Obrigada por compartilhar seus conhecimentos conosco, não encontrei informações como essas em lugar algum. Obrigada mesmo! E que Deus continue abençoando você e sua família cada dia mais!
Tenho uma dúvida: sou formada em Recursos Humanos e trabalho atualmente como bombeiro civil, gostaria de trabalhar na Alemanha na mesma profissão, se possível. Você acha que há possibilidades? Se sim, como eu começaria esse processo?
O que me lembra que esse é um bom tema… Com o que trabalhar na Alemanha?
Mais uma vez, obrigada!
Olá Sara, obrigado pelo comantário!
Infelizmente não sei exatamente como funciona o esquema dos bombeiros aqui.. Só sei que é bem complicado.. Cada comunidade utiliza uma sistemática.. Muitas cidades pequenas nem têm bombeiros full time, mas sim, são cidadãos treinados que andam com um aparelhinho que apita em casos de emergência e têm permissão para sair do trabalho a qualquer hora para atender uma possível emergência.. Em cidades maiores, obviamente eles têm o próprio corpo de bombeiro que fica sempre à disposição..
O jeito é pesquisar como funciona os bombeiros nas cidades onde você tem interesse de se mudar..
Desculpe não ter conseguido ajudar muito dessa vez..
Abraço!
André Lima